O receio das descolorações químicas leva muitas pessoas à procura de soluções naturais e eficazes para clarear o cabelo. Uma das mezinhas mais partilhadas na internet, sobretudo em vídeos do TikTok, é a aplicação de chá de camomila no cabelo. 

Alega-se que esta infusão não só deixa o cabelo mais claro como também o torna mais brilhante, depois da exposição solar. Esta técnica resulta mesmo? Quais os riscos? 

Chá de camomila clareia o cabelo?

Em esclarecimentos ao Viral, Marisa Machado, doutorada em Farmacognosia e Fitoquímica e coordenadora da pós-graduação em Terapias Naturais e Complementares e da pós-graduação em Cosmetologia, Estética Avançada e Anti-Aging, no Instituto Politécnico de Saúde do Norte da CESPU, adianta que, de facto, “a camomila (matricaria chamomilla) tem, na sua composição, algumas substâncias ativas que podem impedir a cor castanha, tanto da pele, como do cabelo”.

Tanto que, refere, “existem produtos de dermocosmética constituídos por extratos de camomila, precisamente, para tornar o cabelo mais claro e mais brilhante”. 

No entanto, salienta a especialista, “existe muito pouca evidência do ponto de vista de estudos clínicos, ou validação científica”. Segundo Marisa Machado, a evidência que existe baseia-se na composição da camomila e nos resultados obtidos “através do uso tradicional”.

Há dois principais compostos com influência no clareamento do cabelo: “a quercetina e a apigenina”. Como explica a investigadora, estes “são compostos importantes para a camomila, de alguma forma, na presença da radiação UV, clarear de forma gradual o cabelo”. 

Como se justifica essa ação? Estes compostos podem “inibir a enzima responsável pela produção da melanina (tirosinase) – que faz com que tenhamos uma pele e um cabelo mais escuro”, esclarece.

Por outro lado, acrescenta, a camomila também “tem outros componentes antioxidantes, que vão proteger contra a radiação”. 

Contudo, Marisa Machado considera relevante apontar que aplicar chá de camomila no cabelo “não tem o mesmo efeito que um descolorante ou outro tipo de corante”.

Além de ser necessário um “uso contínuo”, não tendo “um efeito imediato”, esta mezinha só resulta em “cabelos naturalmente mais claros”, como “um castanho claro” ou “um loiro escuro”. 

Quais os riscos associados a esta prática?

Na perspetiva da professora da CESPU, o maior risco associado à aplicação de chá de camomila no cabelo é “o potencial de induzir reação alérgica em pessoas com predisposição”. 

Nesse contexto, alerta, “o couro cabeludo, em vez de regenerar, pode passar por um processo alérgico inflamatório”. 

Além disso, a exposição solar associada a esta mezinha também pode ser uma preocupação. Sabe-se que “a exposição ao sol é nefasta para a pele, para o couro cabeludo e até para o próprio cabelo”, sustenta. 

Apesar de “a camomila – se for utilizada no seu extrato – ser rica em compostos antioxidantes (flavonoides) que, de alguma forma, vão proteger dos raios UV”, não protegem de uma exposição excessiva.

Aí, “em vez de o cabelo ter um aspeto mais claro e brilhante, vai torná-lo precisamente o oposto: baço e danificado”, frisa. Para mais, em caso de alergia, a exposição solar “agrava a situação”. 

Assim, “uma forma de as pessoas perceberem até que ponto podem ser alérgicas, é testarem o produto numa pequena superfície de pele, antes de fazerem a aplicação generalizada no cabelo”, aconselha a especialista.

Qual a diferença entre a infusão e os produtos com extrato de camomila?

A diferença entre o chá de camomila e outros produtos (como champôs ou máscaras) com extrato de camomila é, segundo Marisa Machado, que “os produtos comercializados têm um extrato com uma composição conhecida e validada, quer do ponto de vista de segurança, quer do ponto de vista de eficácia”.

No caso das infusões, tudo vai depender “se uma pessoa vai colher a planta fresca, se vai usar uma planta seca que tem em casa, se vai usar uma infusão comprada num supermercado”, exemplifica. 

Só “isso faz logo variar a composição do extrato usado” e a pessoa que segue esta prática em casa “nunca vai ter a certeza das quantidades que lá estão”, defende.

Depois, também vai depender “se faz uma infusão de 5 ou 10 minutos”. Por esses motivos é que, quando se recorre a infusões ou a suplementos, “o resultado é tão variável”. 

Já “os produtos com extrato de camomila comercializados estão registados como produtos de higiene corporal no próprio Infarmed”, garantindo uma segurança maior.

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Este artigo foi desenvolvido no âmbito do European Media and Information Fund, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e do European University Institute.

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